Quando o presidente brasileiro Luiz Inacio Lula da Silva esteve na China no início deste ano para sua terceira reunião com Xi Jinping desde que retornou ao cargo em 2023, ele saudou o relacionamento entre os dois países como “indestrutíveis”.
Essa proximidade provavelmente aumentará ainda mais após o anúncio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de uma tarifa de 50 % sobre bens importados brasileiros por razões abertamente políticas, dizem especialistas.
“A realidade é que, hoje, a relação entre o Brasil e a China é muito mais positiva e promissora do que a dos Estados Unidos”, disse Tulio Cariello, diretor de conteúdo e pesquisa do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC).
A promessa de Trump de infligir uma tarifa de 50 % no Brasil, que deve entrar em vigor em 1º de agosto, enviou ondas de choque em todo o Brasil, especialmente porque sob as chamadas tarifas do “Dia da Libertação” que Trump havia anunciado em 2 de abril, as importações brasileiras seriam tributadas em 10 %.
Isso também foi significativamente menor que as porcentagens infligidas a outros concorrentes brasileiros no mercado americano, provocando um senso de oportunidade entre as empresas no país mais populoso da América do Sul.
Portanto, a decisão repentina de uma tarifa de 50 % foi um choque impolite, principalmente para setores que são grandes exportadores para os EUA, como aeronaves, peças de carro, café e suco de laranja.
A tarifa de 50 % ocorreu emblem após a cúpula do BRICS no Rio de Janeiro, onde líderes de países em desenvolvimento levantaram “sérias preocupações” sobre o aumento das tarifas que, segundo ele, eram “inconsistentes com a OMC [World Trade Organization] regras.”
Em uma carta justificando a tarifa, Trump amarrou diretamente a medida à atual situação atual do presidente brasileiro Jair Bolsonaro, que ele chamou de “caça às bruxas”. Bolsonaro, frequentemente apelidado de “Trump dos trópicos”, está enfrentando julgamento por supostamente tentar orquestrar um golpe para permanecer no poder, apesar de sua perda de eleições de 2022 para Lula.
Trump também reivindicou erroneamente um déficit comercial com o Brasil. O Brasil tem um déficit de cerca de US $ 7,4 bilhões com os EUA e um excedente de cerca de US $ 31 bilhões com a China.
A natureza política das tarifas marcou um afastamento da lógica recurring de Trump, atraindo condenação generalizada em todo o espectro político do Brasil e da China.
“As tarifas não devem ser uma ferramenta de coerção, intimidação ou interferência”, disse um porta -voz do Ministério das Relações Exteriores da China.
Ao usar tarifas por alavancagem política, e não por razões econômicas, Trump corre o risco de manchar a reputação dos EUA como parceiro comercial confiável, dizem os especialistas, fazendo a China parecer mais estável e previsível em comparação.
“Até o momento, a China não mostrou indicação de retrocesso nas decisões ou fazer mudanças repentinas”, disse Mauricio Weiss, professor de economia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Fortalecendo os laços chineses
O país asiático ultrapassou os EUA como o maior mercado de exportação do Brasil em 2009, e os vínculos comerciais e de investimento dos dois países só ficaram mais fortes desde então.
Um sinal notável de aprofundar os laços ocorreu na segunda -feira, quando o Ministério das Finanças do Brasil anunciou planos para estabelecer um escritório de consultoria tributária em Pequim. O Brasil tem apenas quatro outros escritórios em todo o mundo – três na América do Sul e um nos EUA.
“A motivação não é politicamente motivada, mas justificada pela crescente importância das relações comerciais bilaterais e pela necessidade de aprofundar a cooperação em questões fiscais e costumes”, disse o ministério do Brasil em comunicado à Al Jazeera.
A China procurou alimentar seu próprio crescimento doméstico através do acesso a recursos naturais e matérias -primas, como petróleo, minério de ferro, cobre, lítio e produtos agrícolas.
Mas desde 2007, a China também investiu mais de US $ 73 bilhões no Brasil, de acordo com a CEBC. Muitos desses fundos estão investindo em setores estratégicos, como energia, infraestrutura, agronegócio e tecnologia.
“Os Estados Unidos ainda investem mais no Brasil, mas os investimentos da China são mais direcionados e coordenados entre os governos”, disse Weiss.
Os produtos chineses também estão se tornando cada vez mais comuns no Brasil. Os carros elétricos fabricados pelo fabricante chinês BYD agora são uma visão comum, com sete em cada 10 veículos elétricos vendidos no Brasil vindo da empresa.
Particularmente simbólico da crescente presença da China em detrimento dos EUA, a compra de uma fábrica enorme de Byd, de propriedade da Ford, no nordeste do Brasil, no Estado da Bahia.
Os dois países também concordaram em explorar a integração de transporte. Esses planos incluem um corredor ferroviário bi-oceano ligando o Brasil ao porto de Chancay, construído em chinês no Peru.
A inauguração de Xi em novembro do Mega-Port-onde o investimento whole deve superar US $ 3,5 bilhões na próxima década-coloca a influência regional da China em uma exibição forte.
Outras nações latino -americanas, incluindo Peru, Colômbia e Chile, também sinalizaram sua aproximação com a China, em meio a temores das intenções de Trump para a região. Anteriormente, ele se prometeu “retomar” o Canal do Panamá, inclusive pela força.
Mas alguns apontaram que a relação aprofundada entre a China e o Brasil não significa que o país sul -americano começará a exportar as mercadorias que atualmente envia aos EUA para a China, pois os dois países compram produtos muito diferentes das empresas brasileiras.
“O Brasil não vai exportar produtos fabricados para a China. Isso não faz muito sentido”, disse Livio Ribeiro, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas.
Mesmo assim, os investimentos chineses poderiam desempenhar um papel essential ao permitir que o Brasil aumente sua capacidade industrial e diversificar sua economia, segundo Weiss.
“Simplesmente ser capaz de produzir mais desses produtos internamente e para outros parceiros da América do Sul já será uma oportunidade significativa de crescimento”, disse Weiss.
Falando durante uma visita estadual na China em maio, Lula disse que o Brasil e a China serão “parceiros indispensáveis” porque “a China precisa do Brasil e do Brasil precisa da China”.
“Juntos, podemos tornar o sul international respeitado no mundo como nunca antes”, acrescentou Lula.